Os torcedores de Corinthians e Palmeiras estão com dificuldades em adquirir ingressos para os jogos decisivos de Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores da América. O problema, no entanto, não está atrelado somente à alta procura ou ao aumento no valor das entradas. Diversos corintianos e palmeirenses relataram brechas nos programas de sócios-torcedores dos clubes, que permitem “invasões” de cambistas e, consequentemente, o esgotamento dos lotes. Fanática pelo Timão, Carolina Lima contou à reportagem da Jovem Pan que enfrentou este problema na última terça-feira, 2, na derrota para o Flamengo, pela Libertadores. Mesmo sendo participante do Fiel Torcedor, a psicóloga não conseguiu ingressos para dois amigos de fora do Estado de São Paulo e recorreu aos cambistas nos arredores da Neo Química Arena. “Eu tentei comprar pelo meu plano, mas o site caiu no horário que liberou e, quando voltou, não tinha setor disponível. Isso já no primeiro dia. Juntos, meus amigos gastaram R$ 700,00 em dois ingressos, sendo que o Corinthians estava vendendo por R$ 150,00 cada”, disse Carolina, que alega ter visto homens comercializando entradas a R$ 500,00 para o setor Sul, o mais popular do estádio e que costuma ser encontrado a R$ 38,50.
Carolina Lima conta que alguns sócios-torcedores do Corinthians utilizam o programa para fazer uma espécie de renda extra, adquirindo ingressos antecipadamente e os revendendo por valores abusivos. “Eles imprimem o QR Code, escolhem um papel do bolso deles e lhe entregam. Ou seja, é próprio torcedor do Corinthians afastando quem verdadeiramente quer estar lá dentro. Além disso, não dá para confiar que seja verdadeiro, pode ser algum já utilizado. E não há nenhuma fiscalização do clube, inclusive os cambistas e comissários ficam conversando”, contou a psicóloga, que afirma já ter denunciado um vendedor extraoficial de ingressos para o clube em outra oportunidade. “Eles alegaram que iriam bloquear o acesso e CPF dele, mas isso não ocorreu. São uns caras superviolentos, abusados e que se aproveitam da paixão do torcedor para fazer dinheiro, mesmo sendo crime”, continuou. De acordo com a torcedora, que costuma viajar pelo país para acompanhar o Alvinegro, este tipo de dificuldade passou a ser mais frequente com o retorno do público aos estádios depois da pandemia. “Vou em todo jogo, inclusive fora de casa, e é algo cada vez mais comum. O problema é que o clube não exige nenhum documento ou comprovação de vínculo para colocar dependentes. Assim, dá a oportunidade das pessoas colocarem até o papagaio. Não lembro de ter tanto cambista e falta de ingressos antes da pandemia. Piorou muito. Outro erro que notei vindo do clube é que eu posso criar outro cadastro com o meu CPF, já que, como sou dependente, é como se eu não existisse. O que vai realmente contar é o CPF do titular, o do meu marido. O do dependente é mais para preencher tabela”, completou.
Do outro lado da capital paulista, torcedores do Palmeiras enfrentam o mesmo tipo de situação. Querendo acompanhar a campanha do time de Abel Ferreira na Libertadores da América, o palmeirense Eduardo Fernandes também é sócio-torcedor, mas encontrou dificuldade para comprar o seu tíquete. “Sei que não é um mal exclusivo do Palmeiras e que todos os clubes sofrem com isso. O grande problema é que, nas pré-vendas, o próprio clube abre o direito a um ingresso por CPF e, mesmo assim, na terceira fase da pré-venda, já havia anúncio em WhatsApp com mais de 100 ingressos, e de setores diferentes, sendo vendidos. Por ser sócio prata com rating baixo (não moro na capital), sei que muitas vezes, quando chega a abertura da minha faixa, há poucos ingressos sobrando. Mas eu não me lembro de outra vez, mesmo em jogo de caráter decisivo, que tenha zerado antes mesmo de chegar na última pré-venda. De resto, cambista é um mal tremendo pro futebol, mas parte desse problema tem que ser erradicado pelo torcedor ao não comprar, em hipótese alguma, ingresso com eles”, comentou o diretor de arte.
A Jovem Pan procurou Corinthians e Palmeiras para comentar as reclamações dos torcedores. Até a publicação da reportagem, o clube do Parque São Jorge não se manifestou. O Verdão, por sua vez, afirmou que o crime precisa ser investigado pelas autoridades públicas. “O problema dos cambistas é de responsabilidade do poder público, que tem os instrumentos necessários para identificar e punir os envolvidos. O Palmeiras ressalta que, para adquirir de forma lícita os ingressos das partidas do clube como mandante, a compra deve ser sempre efetuada pelo site ingressospalmeiras.com.br ou nas bilheterias do Allianz Parque”, disse o clube alviverde.